segunda-feira, 29 de março de 2010

Reinauguração do Cine-Teatro Solar Boa Vista: um presente para os soteropolitanos



Fachada do Cine-Teatro. Reprodução

Localizado em um dos bairros mais importantes da capital baiana, Engenho Velho de Brotas, o Cine-Teatro Solar Boa Vista passou por uma reforma estrutural e foi devolvido à população de Salvador no dia 14 de março, às 9h, com a Lavagem do Solar. Desde então, uma extensa programação marca a reabertura do equipamento cultural, com atrações de dança, teatro, circo, cinema e música, terminando no dia 31 deste mês. A reinauguração do Solar se insere nas comemorações do mês do Teatro e do Circo e coincide também com o mês do aniversário de Salvador.

Em funcionamento desde 1984, quando foi fundado pelo Governo do Estado e administrado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), vinculada à Secretaria de Cultura do Estado (SECULT), o Cine-Teatro foi reaberto no dia 19, às 19h, em sessão solene que contou com a presença do secretário de Cultura, Márcio Meirelles, da diretora geral da FUNCEB, Gisele Nussbaumer e da coreógrafa Lia Robatto, viúva do fotógrafo Sílvio Robatto (1936-2008), que nomeia a sala principal do espaço e foi responsável pela entre concepção e projeção de oito espaços culturais da FUNCEB, incluindo o Cine-Teatro Solar Boa Vista, entre 1983 e 1987. Com recursos da Fundação Cultural e do Fundo de Cultura da Bahia, que totalizam R$ 400 mil, a reforma do Solar teve início em 2007, com recuperação dos telhados, pintura, revisão das redes hidráulica e elétrica, reparos no sistema de climatização, descupinização, dentre outras melhorias.

Coordenador do equipamento cultural desde 2007, Chicco Assis destaca a importância do Cine-Teatro para revitalizar a cultura do bairro. "O Solar representa muito para a cidade de Salvador. Ter o Solar devolvido à classe artística e à comunidade soteropolitana, no mês do aniversário da cidade, vai além de um presente à Salvador, representa a ampliação da possibilidades de acesso aos meios de produção, circulação, fruição e apropriação de bens e produtos artísticos. É mais fôlego para a vida cultural do Engenho Velho de Brotas, que sempre esteve pulsando no coração da cultura de Salvador", afirma Assis. Em seus 26 anos de existência, o espaço já recebeu artistas como Margareth Menezes, Cássia Eller (1962-2001) e Nana Caymmi, e montagens dos diretores teatrais Fernando Guerreiro e Luiz Marfuz.

Lavagem do Solar. Foto: Ana Paula Vasconcelos

Programação diversificada

O público que compareceu ao Cine-Teatro pôde conferir um calendário repleto de atrações culturais a preços acessíveis. Dentre as atrações que fizeram parte da programação especial, estão a cantora Márcia Short, moradora do Engenho Velho de Brotas, espetáculos, oficinas e intervenções dos grupos pertencentes ao Ponto de Cultura do Solar, filmes como “O Circo”, de Charles Chaplin e “Piruetas”, de Paula Gomes, a peça infantil “Larissa e seus Amigos Mágicos” e os monólogos adultos “Absoluta!”, encenado pela atriz Márcia Andrade e “Bevabbè”, apresentado pela atriz italiana Dodi Conti. No dia 31 de março, às 20h, a programação se encerra com o espetáculo Repertório Fulana, com ingressos a R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia).

Um velho engenho que abrigou um poeta

Em seus 461 anos de fundação, Salvador guarda histórias sobre seus habitantes e seus lugares, que ainda são desconhecidas por muitos e com o Engenho Velho de Brotas e as suas edificações, isso não é diferente. No ensino convencional, os estudantes aprendem, basicamente, sobre a história do dia 29 de março de 1549, mas desconhecem sobre a trajetória dos bairros desta que foi a primeira capital do Brasil.

Como o próprio nome já sugere, o bairro foi um antigo engenho de açúcar. De lá, era possível ver os navios negreiros chegando pela Baía de Todos os Santos, para trabalhar não somente no velho engenho, mas nas fazendas que constituíam a Salvador de antigamente. Com o passar dos anos, a localidade passou a ser recomendada para os que sofriam de problemas pulmonares, devido ao clima aprazível e ao ar puro.

Personalidades da cultura e da medicina já fizeram do bairro a sua morada ou seu local de trabalho, como o poeta Castro Alves (1847-1871), que residiu com sua família no antigo casarão amarelo, o Solar Boa Vista, para o qual escreveu o poema “A Boa Vista”. O Engenho Velho também foi morada do capoeirista Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba (1899-1974), do fotógrafo francês Pierre Fatumbi Verger (1902-1996), onde criou a Fundação Pierre Verger, do ex-vocalista da Timbalada, Ninha Brito e do percussionista e líder da banda de pagode Psirico, Márcio Vítor. Com população composta majoritariamente por afro-descendentes, o Engenho Velho de Brotas possui diversas manifestações culturais afro-brasileiras, como os Sambas Juninos de grupos como o Samba Jaké, Bloco Afro Badauê e o Grupo União, além da forte presença de terreiros de candomblé.

Durante muitos anos, o bairro abrigou o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira, referência no tratamento de pacientes com transtornos mentais e o casarão do Solar já foi sede da Prefeitura de Salvador (gestão Manoel Castro, entre 1983-1985) onde atualmente funciona a Secretaria Municipal de Educação, Cultura, Esporte e Lazer (SECULT). Além da secretaria, o Conjunto Parque Solar Boa Vista inclui quadras poliesportivas, anfiteatro e o Centro de Saúde Mental Professor Aristides Novis.


Por Paloma Ayres