segunda-feira, 29 de março de 2010

461 anos de preguiça?!

Hoje, quando Salvador comemora os 461 anos, muitas questões são lembradas e associadas à cidade. Uma dessas características pode nem ser lembrada ou comentada no dia do aniversário, mas ainda é bastante comentada durante o ano todo, não somente na capital como também todo o estado: a preguiça.

A professora e antropóloga Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, defendeu uma tese em setembro de 2009 que tinha como tema a preguiça baiana. No trabalho, ela desmitificou muito dos preconceitos associados aos baianos e descobriu que somos mais eficientes que trabalhadores de outras regiões do Brasil.

A pesquisa, que durou quatro anos, comprovou o que já se contestava: a associação com a preguiça é por conta, principalmente, do racismo. Os colonizadores portugueses foram os primeiros a propagar esse preconceito, ao caracterizar os negros e escravos de preguiçosos, por retardarem o serviço e se mostrarem contrariados (por razões óbvias) ao regime de escravidão impostos a eles. Ainda hoje, com uma população composta por 79% de negros e mestiços, o discurso se mantem.

Além disso, artistas como Dorival Caymmi, Caetano Veloso, entre outros, também são responsáveis pela popularização da imagem de preguiçoso dos baianos, reforçados pela mídia, assim como a indústria do turismo, que ajudou a propagar a ideia de um local de lazer permanente. Mas no trabalho a professora comprovou que as festas não interferem no trabalho, mostrando inclusive que uma das épocas em que mais o baiano trabalha é no carnaval, já que 51% da mão-de-obra é informal, o período de festas é a época com mais oportunidades de trabalho. No fim, quem mais curte a grande festa são os turistas.

A prova disso é a pesquisa que foi realizada em uma empresa com sede no Pólo Petroquímico da Bahia que revelou um maior número de faltas na filial de São Paulo (0,61%), do que na sede de Salvador (0,27%), durante o mês de carnaval.

O fato de que o maior pólo petroquímico do país está aqui, como também o maior pólo industrial do Norte e Nordeste, resulta em previsões de que em cerca de 10 anos, a Bahia poderá se tornar o maior pólo industrial da América Latina. E o atrativo turístico, que a capital e o estado possui, é outro chamariz para recursos para a região.

Entre as comemorações dos 461 anos de Salvador, o mito da preguiça tem que dar lugar a valorização de uma terra festeira sim, mas com um povo bastante trabalhador.