quarta-feira, 31 de março de 2010

Caos e descaso no trânsito de Salvador


Salvador passa por sérios problemas com relação ao trânsito. O número crescente de automóveis nas ruas, aliado à má conduta dos motoristas, às ruas estreitas e à falta de viadutos que dificultam o escoamento do fluxo de veículos contribuem para a desordem do trânsito local. Construção de vias alternativas e qualificação do transporte de massas são possíveis soluções. Enquanto a prefeitura ainda luta para colocar o metrô em funcionamento, a Avenida Luiz Viana Filho (Paralela), região que tem recebido grandes investimentos imobiliários, parece ser a próxima vítima da piora no trânsito.

Com uma população que beira os três milhões de habitantes e com uma frota de 678.739 veículos cadastrados (dados do Detran), o trânsito soteropolitano carece de planejamento e articulação entre os órgãos da prefeitura. Somente entre janeiro e fevereiro deste ano, 3.574 novos automóveis ganharam as ruas, inchando ainda mais os grandes centros.

Segundo o arquiteto Heliodorio Sampaio, doutor em Arquitetura e Urbanismo e professor titular de Planejamento Urbano da Faculdade de Arquitetura da Ufba, a situação do trânsito na capital baiana é “caótica e lamentável” e as ações das sucessivas gestões municipais são ineficazes e descontínuas. “Falta uma gestão competente, continuada e com investimentos na qualificação de pessoal, equipamentos e monitoração do tráfego. Nem sempre o planejado é executado, agravado pela descontinuidade administrativa”. Segundo ele, “a prioridade para o transporte coletivo, a única saída para as grandes cidades, é apenas um discurso gasto e repetitivo, sobretudo em ano eleitoral”.

Heliodorio Sampaio sugere que para desafogar o trânsito da cidade e otimizar o tempo de motoristas e passageiros é necessário planejamento. “Planejar a cidade para o transporte coletivo e os pedestres, e não continuar fazendo investimentos só para o automóvel. O carro individual é um “cancro” que corrói as grandes cidades, e nas mais pobres é algo perverso. Só a classe média alienada ainda pensa que, com seu automóvel irá a qualquer canto e a qualquer hora”, afirmou o arquiteto, para quem a realidade é maquiada pelo discurso demagógico do marketing urbano.

Motorista de táxi há 13 anos, Antônio Pereira dos Santos, 55, tem seu trabalho prejudicado pelo trânsito. “Ao invés de fazer três corridas só conseguimos fazer uma. O carro esquenta, é ruim pra todo mundo”, reclama. Para ele, a cidade não tem um sistema de transporte que atenda à demanda da população. Segundo o taxista, a solução seria “a criação de vias alternativas por parte da prefeitura”, a exemplo dos viadutos. Com relação à possibilidade de rodízio de veículos, é bastante crítico. “Você compra seu carro, paga IPVA, é um direito que você tem de circular. Com uma medida dessas, o cara compra dois carros, anda um dia com um, um dia com outro, vai piorar a situação”.

Luíz Antônio Teixeira de Almeida, porteiro, 37 anos, chega a passar duas horas e meia dentro do ônibus. Na sua opinião, a prefeitura deveria deslocar estabelecimentos comerciais para criar novas pistas, a exemplo do que está acontecendo com as obras da Via Expressa, que ligará a BR-324 ao Porto de Salvador e desapropriará 771 imóveis ao longo da via. Mas preocupa-se com o destino dos moradores e comerciantes. “A cidade está crescendo e sua estrutura, mal feita, não permite abrir pistas. E o pessoal vai pra onde?”, argumentou o porteiro.

Para José Herculano Neves Bispo, 58 anos, taxista há nove, o trânsito atual é o pior dos últimos anos. “Aqui não tem um sistema de transporte de massas. O transporte da gente é caótico, e aí todo mundo pega o seu carrinho e vai pra rua e fica essa loucura”, afirmou o taxista, que considera as avenidas Barros Reis e Mário Leal Ferreira (Bonocô) e o bairro do Iguatemi os piores lugares para se transitar. Como principal solução para os constantes congestionamentos, sugere o aumento e qualificação do transporte de massas por parte da prefeitura.

A Avenida Luiz Viana Filho parece ser o próximo alvo do inchaço no fluxo de veículos. Com o boom imobiliário no local, dezenas de prédios estão sendo construídos simultaneamente, e o impacto se fará sentir a partir de 2011, provável ano de entrega dos imóveis. O resultado será um incremento na população residente à avenida, que comportará um número de pessoas similar ao de uma pequena cidade. Segundo dados do jornal A Tarde, entre 20 mil e 30 mil veículos passarão a circular diariamente no local, aumentando ainda mais o já sobrecarregado fluxo de automóveis da região.