quinta-feira, 20 de maio de 2010

Processo de abertura do Restaurante Universitário da UFBA é marcado por contestações

Estudantes exigem melhorias para fortalecer política de assistência estudantil na universidade


Matheus Sampaio

Desde o dia 17 de maio a Universidade Federal da Bahia (UFBA) deixou de ser a única universidade federal do país sem um Restaurante Universitário (RU) ativo. A reabertura do restaurante só foi possível após a realização de um contrato emergencial com a empresa Dall Alimentos e Serviços pelo período de seis meses. O anúncio de que o preço da refeição seria R$5,50 gerou revolta na comunidade estudantil: “Eles acham que a gente é palhaço! Depois de vinte anos, 1500 refeições e ainda com esse preço, numa universidade com 35000 estudantes? Isso é um absurdo!”, é o que pensa o estudante de Medicina Veterinária Brasil Alves.

Quando fala em vinte anos, Brasil se refere à inatividade do restaurante desde 1990, período em que foi fechado pelo Conselho Universitário, pela existência de algumas irregularidades como mau gerenciamento de recursos, defeitos nos equipamentos, greves de servidores e protestos de alunos. Mesmo existindo, desde 2001, um Centro de Convivência construído para abrigar o novo RU, ele passou todo esse período desativado por novos problemas estruturais, mas principalmente por problemas em processos licitatórios.

Já o estudante de Ciências Sociais Hugo Santos contesta essa versão oficial: “Naomar (Almeida Filho, reitor da UFBA) está à frente da gestão há quase oito anos, a não abertura do RU é uma questão política. Foi uma opção política de não atender às necessidades das e dos estudantes que necessitam de assistência estudantil”. Hugo é membro do coletivo Um Real já, um grupo de estudantes da UFBA que se organizou para reivindicar mais refeições e menor preço no RU.

Polêmica sobre o preço das refeições

Todos os estudantes passaram a ter o direito às refeições pelo preço de R$2,50, mas isso se deveu à falta de condições de a Pró-Reitoria de Assistência Estudantil (PROAE) fazer um processo seletivo em pouco tempo, segundo informou o professor Álamo Pimentel, pró-reitor da PROAE. É que inicialmente estava previsto que esse preço seria apenas para 400 estudantes selecionados pela PROAE, mas, como a demanda era urgente essas refeições foram abertas à comunidade estudantil da universidade.

O coletivo Um Real questiona o próprio preço cobrado pela Dall no contrato. Eles acham justo que o preço final para os estudantes seria de R$1,00: “R$5,50 tá muito caro. Na UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), por exemplo, a empresa cobra R$3,50 por cada refeição, a universidade subsidia e sai R$1,00 pros estudantes” é o que diz o estudante de Geografia, Davi Monteiro.

Se comparado com alguns restaurantes terceirizados que funcionam dentro da UFBA, o preço da Dall também está alto. O JF entrevistou Edelzuita Oliveira, responsável pelo restaurante self-service da Faculdade de Comunicação, ela diz que “90% das pessoas que almoçam aqui gastam menos de quatro reais”, e, em alguns casos,“tem pessoas que comem aqui que o prato dá R$1,60”, confirma.

Os militantes do Um Real Já fazem questão de lembrar o grande orçamento da UFBA, que em 2009 chegou a 929 milhões, somando-se a uma receita extra-orçamentária de 161 milhões. O estudante de direito, Mario Soares é enfático: “é esse orçamento enorme da universidade que me preocupa, eles não tem argumento de colocar o RU a um real.” Só que, desse orçamento, a Pró-reitoria de assistência estudantil ficou com apenas 12 milhões de reais.

O professor Álamo Pimentel diz que a PROAE argumenta que a universidade não tem condições de assumir as reivindicações do movimento porque “esse contrato de seis meses que a gente pretende levar até o final ta custando 4,2 milhões anuais”, e ainda reforça: “a gente não é contra à refeição de um real, agora temos que pensar como é que isso vai impactar no orçamento da universidade”.

Sobre o problema da quantidade de refeições, Álamo diz que não é só pela condição financeira da PROAE. Ele afirma que essa é a capacidade máxima da cozinha, que foi calculada com base num estudo realizado pela Escola de Nutrição da UFBA (Enufba), que considerou o espaço físico e os equipamentos disponíveis. Álamo diz que esse é só um começo para o RU e garante que “o projeto que nós estamos deixando para a universidade, é que nós tenhamos uma unidade de produção em Ondina e outros pontos de distribuição em outros campi”.

Estudantes devem estar presentes nas discussões


Um estudante também membro do Um Real Já que não quis se identificar defende o argumento de que esses impasses devem-se, em grande parte, à “ausência do movimento estudantil na luta pelos verdadeiros interesses dos estudantes”, para ele muitos segmentos do movimento estudantil estão mais ligados a interesses partidários do que os interesses dos estudantes. “Eu já pertenci a um DA ( Diretório Acadêmico) e sei como as coisas acontecem, eu já fui até ameaçado de agressão física”.

A força do movimento estudantil pode superar esses impasses, é o que acredita Gustavo Menezes: “cabe agora fortalecer a pauta diante do conjunto de estudantes e avançar na luta, pressionando a Reitoria a também colocar a assistência estudantil em debate, reduzindo o preço e ampliando o número das refeições, além de responsabilizar-se pela real implementação de uma política de assistência estudantil na UFBA”.