segunda-feira, 31 de maio de 2010

O abandono do Centro de Educação Física e Esporte

Reformas estão previstas, mas ainda não há uma data certa

            Visitar o Centro de Educação Física e Esporte da UFBA (CEFE/UFBA) durante a semana pela manhã é completamente diferente de transitar pelo local nas tardes e noites de sexta-feira e nos finais de semana, em que o grande número de freqüentadores contrasta muito com as manhãs vazias. Mas independente do momento em que se visita o CEFE/UFBA, o abandono e o estado precário da estrutura do centro é evidente.
            Construído no final da década de 70 em uma área nobre da Avenida Oceânica, em Ondina, o CEFE/UFBA possuiu inicialmente um campo de futebol, uma área de atletismo, quadras descobertas e uma construção (aparentemente provisória) contendo dois banheiros, duas salas, uma copa e um almoxarifado. Nessa mesma época foi estabelecido um projeto de construção de um complexo esportivo completo, com um parque aquático, um ginásio poliesportivo com arquibancadas e alojamento, prédio para a Escola de Educação Física, uma arquibancada ao redor do campo de futebol oficial e duas entradas, uma pela orla (que existe atualmente) e outra por São Lázaro. Mas até hoje a ideia não saiu do papel.
            Enquanto isso, se busca alternativas, por exemplo, na falta de piscina para as aulas práticas, os alunos utilizam a do colégio ISBA, localizado próximo ao CEFE/UFBA, e que em troca fazem uso das quadras do centro. Mas esse acordo já gerou constrangimentos. “Teve colegas meus que sofreram preconceito, de chegar lá e alunos da FSBA chamar os alunos da UFBA de 'os sem-piscina'”, denuncia Clayton César, estudante de Educação Física.
            O local também serve de passagem para muitos transeuntes pelo fácil acesso, e os poucos seguranças não cobrem toda a região, que possui muito mato, áreas desertas e está sem vigilância de câmeras. Os alunos tomam precaução através das dicas dadas até pelos funcionários, evitando trazer aparelhos e objetos valiosos, pelo medo de deixar coisas nas salas e alguém levar, enquanto fazem as aulas práticas nas quadras ou no campo. “Não sabemos a intenção de quem frequenta o local. Até porque uma colega nossa já teve a câmera digital roubada durante a aula”, afirma Clara Lima, aluna de Educação Física. E continua: “Pela manhã fica um segurança de vigia enquanto as pessoas caminham na pista de atletismo. Mas somente um não é suficiente para todo esse campo”.
            A iluminação precária das quadras favorece o clima de insegurança e dificulta o uso dos estudantes e frequentadores para a prática e lazer. A maior quadra e o campo de futebol ficam sem luz. “Já aconteceu de estudante conectar a bateria do carro às lâmpadas para melhorar a iluminação das quadras”, comenta Jaime Pinheiro Souza, administrador do CEFE/UFBA. “Já contactamos a Prefeitura do Campus, funcionário vem ajeitar, mas o problema persiste.”
            A falta de manutenção do CEFE/UFBA também compromete as atividades esportivas. “Falta estrutura, as quadras possuem buracos, travas estão soltas, há tabelas sem cestas e algumas nem tabela tem”, critica Alex Silva Maia, estudante de Educação Física. O campo e a pista de atletismo também estão em situação precária, com muito mato ao redor, além de contar com uma proteção provisória para os jogadores. A maioria das “reformas” é feita pelos frequentadores das comunidades do Calabar e Alto das Pombas, que ajeitam as travas com remendos e as sustentam com pedras.
            Mas mesmo sendo presença assídua no local, o pessoal de comunidades tem dificuldades para formalizar o uso das quadras através de ofícios. Romário Reis, morador do Alto das Pombas, há 10 anos frequentador do Centro de Esportes e Educação Física, não tem ofício para poder jogar, mas ele e os amigos já possuíram quando tinham um contato que intermediava a relação deles com o administrador do local, mas que tinham que renovar de mês em mês. “Sem esse contato, fica difícil conseguir o ofício. Chegamos aqui e perguntamos ao vigia se podemos jogar. Enquanto as pessoas que reservaram a quadra não chegam, a gente fica aqui”, ele comenta. Sem o ofício, fica difícil conseguir certos materiais, por conta dos horários registrados e reservados. Mas como afirma Ícaro Nascimento, também do Alto das Pombas, na falta de local para jogar onde moram (“Só se jogarmos na rua e, competir com os carros.”), o centro serve de espaço de lazer.
            Essa dificuldade de reservar as quadras é também um problema para próprios alunos da UFBA, como confirma o estudante de Geofísica Felipe Sotero. Ele utiliza o local com os colegas toda sexta-feira, desde março de 2010, mas até hoje sem conseguir um ofício, já que além da manhã, não há profissionais para atender e monitorar o uso das quadras no CEFE/UFBA em outros turnos. “A gente vem ao centro para tentar conseguir uma quadra vaga. Mas quando não encontra, o pessoal se junta e terminam jogando todo mundo junto”, afirma Sotero.
            O banheiro é praticamente de uso coletivo, já que há somente um para utilização. “Sabonete e papel higiênico são luxo. Cada um tem que trazer o seu”, critica o estudante Clayton César. Os alunos do curso de Educação Física inclusive já foram à Prefeitura de Campus solicitar materiais, mas encontraram muita burocracia. “Há necessidade de obtenção de três orçamentos dos materiais (valor total abaixo de R$ 8 mil) e anexá-los a uma solicitação de compra e serviços de instalação a ser encaminhada à FACED para autorização da compra e execução dos serviços de instalação do material”, explica o estudante Silvio Romero da Silva.
            O sucateamento do Centro de Educação Física e Esporte está relacionado com o abandono do próprio curso de Educação Física da UFBA. Segundo os alunos, algumas matérias no CEFE/UFBA parecem servir para justificar o uso e manutenção do local. Tanto que o centro apresenta as piores instalações do país, em comparação a outras universidades federais, que junto com uma grade curricular desatualizada, coloca o curso de Educação Física da UFBa entre os piores do Brasil.
            A falta de manutenção do CEFE/UFBA dificulta no andamento das aulas. “Quando chove, as salas viram piscinas, por conta dos buracos no teto, fazendo com que os alunos se apertem nos espaços secos para poder assistir aulas”, critica a estudante Clara Lima. Isso piora quando os materiais também molham e precisam ir à FACED, no Canela, para ter aulas práticas em salas sem a estrutura para essas atividades. Além disso, as quadras ficam escorregadias, que favorece acidentes. “Teve caso de uma pessoa que caiu enquanto jogava bola, partiu o queixo e não tinha aqui nenhum material para auxiliar no primeiro socorro”, queixa-se Clara. E no verão, os alunos tem que suportar salas abafadas, já que alguns ventiladores não funcionam. Há também falta de materiais como computadores, tomadas, além de não haver cantinas e ter uma rede elétrica exposta e sem manutenção.
            Há boatos de que o centro possa ser vendido para uma rede hoteleira, transformando a região em resort por conta da localização privilegiada. Ou até ter investimento por conta da Copa de 2014, mas ser vendido para virar centro esportivo particular. Mas o administrador Jaime Pinheiro Souza fala que está previsto em julho uma reforma do prédio e transferência da coordenação do curso de Educação Física, que hoje se localiza no FACED, Canela, para o CEFE/UFBA Há também um projeto para reforma do campo e das quadras visando a Copa de 2014, que inclui a construção de piscina, mas ainda sem previsão para o início das obras.