quarta-feira, 5 de maio de 2010

Famílias com duas mães

Já se foi o tempo em que o dia das mães era comemorado apenas entre as famílias com mães heterossexuais. Em alguns países e inclusive no Brasil a lei da adoção permite que crianças sejam adotadas sem referências à orientação sexual dos futuros pais e mães. Por isso, no próximo domingo muitos filhos e filhas comemorarão o dia das mães com duas mães.

Entretanto, essas mães ainda são obrigadas a passar pelo preconceito de juízes - que acham que a adoção de crianças por um casal gay é uma espécie de atentado à integridade moral do menor -, família e amigos dos filhos.

Apesar da ciência ter anunciado que não existe diferença na formação de uma criança criada em uma família homossexual, de acordo com estudo publicado no American Journal of Orthopsychiatry e Journal of Lesbian Studies, em 2008, o preconceito ainda existe. Segundo o estudo, as crianças sofrem muito mais com a questão da discriminação dos amigos e conhecidos do que com alguma interferência negativa em sua criação.

“Os dados deste estudo concluem que as crianças que cresceram em famílias formadas por duas mães são saudáveis, felizes e ativas”, disse a Dra. Nanette Gartrell, uma das responsáveis pelo estudo. “Essas mães criaram um ambiente de amor e seguro onde seus filhos puderam crescer e prosperar”.

Quando contar?

Um grande dilema das mães lésbicas é se devem e quando devem ou não contar para os filhos que são lésbicas. O medo que a discriminação sofrida por elas seja transmitida aos filhos é o principal motivo para que as mães escondam de todos a homossexualidade.

Lúcia Facco escreve em seu blog, Parada Lésbica, sobre esse dilema:
“Sempre tive a preocupação com o fato de meu filho vir a sofrer preconceito por minha causa, por uma “escolha” de vida minha. Contudo, depois de muitos anos, eu cheguei à conclusão que isso faz parte do aprendizado da vida dele. Ele (agora com 15 anos) chegou para mim no outro dia e disse que não tem o menor problema em relação a isso. ‘Se algum colega se afastar de mim por conta disso, não merece ser meu colega.’” .

De acordo com os psicólogos, o ideal é que os casais contem para seus filhos sobre a homossexualidade quando as crianças completarem seis anos. Esperar que eles cheguem a adolescência pode causar graves problemas; principalmente se a criança ou adolescente fica sabendo da orientação sexual dos pais pelos outros.

Últimas decisões

No mês de abril, no Reino Unido, duas britânicas foram reconhecidas legalmente como os pais de uma criança concebida por uma delas a partir de inseminação artificial.

Já aqui, alguns políticos ainda reproduzem o preconceito. Recentemente, um projeto de lei do pedagogo e deputado federal Zequinha Marinho (PSC-PA) quer impedir a adoção de crianças por gays. (Clique aqui)

Na semana passada, em decisão inédita, o STJ reconheceu a legalidade da adoção de crianças por um casal homossexual de Bagé. Com a decisão, as duas crianças adotadas pelo casal de lésbicas receberão o nome das duas mães.