domingo, 9 de maio de 2010

Procura-se por filhos


Por Karina Costa

Simone não vai trazer o presente da mãe Josenilda neste domingo, dia 9 de maio. Josenilda Pinho não vai esquecer todos os 26 dias das mães que passou com a filha. Mas a professora cansou de esperar que a filha voltasse da viagem de férias à Chapada Diamantina e foi em busca da jovem. Jamais descansou nessa procura, como não descansam outras tantas mães que viram seus filhos saírem, mas não os viram voltar. Foram engolidos pelo mundo.

Em 16 de junho de 2000, Simone Pinho, 26, foi para Lençóis. Um homem interrompeu sua trajetória e enterrou seu cadáver, deixou a mãe da moça a procurar por sinais de vida ou de uma indesejável morte, por cinco anos. Abril de 2005, esse homem aparece no “Fantástico”, José Vicente Matias, preso e réu confesso de seis homicídios, entre eles de uma moça da Bahia. Em 2005, Josenilda encontrou a ossada da filha perto do rio Ribeirão de Baixo. Simone havia sido morta, enquanto fazia trilha. O enterro “de verdade” só ocorreu no dia 24 de março de 2006, era fim de uma história triste.

Durante esses cincos anos, 1. 825 dias, Josenilda Pinho foi à Polinter procurando quem pudesse ajudá-la. Os órgãos públicos não foram eficientes, alegaram que Simone não era mais uma criança e que não tinham o que fazer. Para a mãe, não faltou vontade e força para descobrir o que havia acontecido com a filha. Sobrou tristeza, que até hoje faz parte da vida de quem viveu a saga de procurar por filhos desaparecidos.


“O Movimento Simone Pinho virou minha vida” , Josenilda Pinho

Em 10 setembro de 2002, depois de ser vice-presidente do Mães do Brasil, organização que ajuda na procura por desaparecidos, com sede no Rio de Janeiro, Josenilda funda o Movimento Simone Pinho em Salvador. A Ong tem 3.028 desaparecidos cadastrados. São mães que procuram filhos e filhos que procuram mães, pais, irmãos. Com quase oito anos de fundação, foram 648 localizados, como eles são tecnicamente chamados. Mas que quem viveu não sabe nomear a sensação desse reencontro.

As histórias desses poucos mais de 3 mil desaparecidos, são semelhantes: Osvaldo Costa, 33, saiu de casa dizendo dizendo que iria para Salvador e não mais retornou. Como não retornou Edson Menezes, 21, que foi para o bairro de São Tomé de Paripe fazer biscate e menina Emeli Carolino, 14, que saiu dizendo que ia para escola. Os cartazes de ruas não dizem nada da angústia daqueles que os procuram, não falam de Lindinalva mãe de Osvaldo, nem da procura de Maria Nilza por Emeli. Deixam apenas telefones que insistem em não tocar.