domingo, 27 de junho de 2010

Respeita os oito baixos do teu pai!


Os festejos juninos no nordeste são compostos essencialmente de tradições. São cores, rezas, fogos, santos, festas e claro, muito forró. Cada elemento dessa fantástica fusão de signos que é o são João pode ser infinitamente destrinchado em muitas e muitas camadas de história. A sanfona é um belo exemplo disto.

Contrariando muitas versões populares, o instrumento precursor da sanfona foi criado inicialmente na China, há cerca de cinco mil anos atrás, e chamava-se Tcheng. Em 1829, um austríaco chamado Cyrillus Demian registrou a nomenclatura Accordeon. Mas, um instrumento que perdura até os tempos atuais e não sai da moda, não poderia ser criação de um só homem. No mesmo ano, Charles Wheatstone registrou a patente do mesmo instrumento, só que o chamando de Concertina. Em 1936, foi publicado em Viena, berço de grandes genialidades musicais, os primeiros métodos para o ensino da sanfona.

No Brasil, as primeiras notas do aparelho chegaram através dos imigrantes europeus. Alemães e italianos o trouxeram para os estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde passou a executar não o forró, mas ritmos diversos, como o fado, a valsa e a polca. Nas diferentes regiões por onde passou, o acordeon foi ganhando características pessoais do local, assim como diferentes denominações: sanfona para os nordestinos e gaita, gaita de foles ou realejo, no Sul.

Muito difundido no país a partir da década de 50, a versatilidade da sanfona conquistou cada vez mais adeptos, especialmente os nordestinos. Nesse contexto, surgiu a simbólica figura de Luiz Gonzaga, conhecido como o rei do baião e um dos grandes responsáveis pela popularização do estilo através dos seus grandes sucessos.

Nas recentes comemorações juninas, são muitos os representantes da nova geração que continuam dignamente a trajetória do instrumento. Um grande exemplo disto é um jovem rapaz conhecido como Tadeu do Acordeon (foto), líder da banda Jerimum Assado, que há sete anos produz o tradicional forró nordestino. Ano passado, José Tadeu de Oliveira Filho venceu o concurso regional de sanfona da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana). O forrozeiro, que este conquistou o terceiro lugar no mesmo concurso, diz que foi criado em ambiente rural e sempre ouviu as músicas do rei Luiz Gonzaga, até que resolveu arriscar e tocar sozinho a sanfona velha de um amigo, brincadeira que já completa oito anos.

No bairro de Fazenda Coutos, em Salvador, Joildo Cordeiro atravessa seus dias consertando, tocando e afinando o instrumento. Ele aprendeu a tocar e a restaurar a sanfona com o pai, e há quase de trinta anos vive deste trabalho. Hoje, ele tem uma oficina na sua própria casa, e, principalmente no período de festas juninas, passa dia e noite convivendo com o antigo Tcheng. Locais como este são raríssimos, mas, com a ajuda de equipamentos eletrônicos e um ouvido bem apurado, seu Joildo concerta e afina. A fama fez com que ele criasse um trio nordestino, o que o deixou conhecido como Galego do Acordeon.

Resultado de anos de tradição, evolução e muita música, hoje, o som da sanfona é um dos principais elementos que garante a alegria da festa de São João.