segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não é só um "remedinho"

Com certeza você conhece alguém que toma "calmantes". Os chamados ansiolíticos são drogas sintéticas frequentemente usadas para diminuir a ansiedade e a tensão. Os mais conhecidos são o Diazepam, Lextoan e, principalmente, o Rivotril, que somente em 2008 conseguiu a marca de 14 milhões de caixas vendidas nas farmácias brasileiras. E olha que o comércio formal não é o principal meio para os "viciados". Há várias comunidades no Orkut em que os usuários compram e vendem o remédio. No Facebook, mais de 1600 fãs participam da comunidade dedicada ao remédio. Com isso, o Rivotril passou a ser o segundo remédio mais vendido no país, ganhando de remédios conhecidos e fáceis de comprar, como Anador e Aspirina.
Mas por que os ansiolíticos estão fazendo tanto sucesso? Nas comunidades do Orkut e do Facebook a maioria dos relatos destaca a insônia e o medo para começar a tomar ansiolíticos.

"No primeiro mês, tudo me pareceu melhor, já não tinha mais insônia, estava mais animada, e com mais perspectiva."

Algumas pessoas chegam a comparar o efeito dos remédios aos de uma "saidinha com os amigos" e destacam o fato de hoje todo mundo ser obrigado a se sentir bem.:“Não tem gente que de vez em quando precisa encher a cara? Então, é a mesma coisa. A gente tem medo de muita coisa, de ser julgada, de ter acontecido alguma coisa com a filha que não chegou da balada, de não ser aceita, de ter que estar sempre bem.” Outras pessoas destacam os efeitos dos medicamentos e chegam a afirmar que eles não causam vício.

"ja tomei uma vez...melhor sensação de calma, tranquilidade e relaxamento do mundo, é como tomar uma caipiroska, só que sem ressaca!! bom que é dificil viciar com ele, só se for muito burro e usar todo dia. "

De acordo com o Dr. Darlan Barreto, especialista em medicina do trabalho, o uso destas drogas é perigoso principalmente por que elas podem causar vício facilmente. "Ansiolítico não serve para depressão, ele é receitado para casos relacionados à ansiedade. O uso do medicamento só deve ser feito em casos extremos, quando os ataques de ansiedade podem causar outros danos, como problemas no coração." Barreto afirma também que um dos agravantes é o efeito rebote, condição em que a suspensão abrupta do uso do medicamento provoca o retorno das manifestações da doença com intensidade. Ele garante que isso é o suficiente para que os usuários não abandonem o remédio ou que seja difícil cortar o uso mesmo depois de pouco tempo.

"Hoje nós estamos trabalhando mais, o ritmo de vida é acelerado e as pessoas acabam tomando ansiolíticos pra enfrentar situações normais na vida de todo mundo."

Para o médico, é importante que as pessoas enfrentem situações difíceis como perda de parentes próximos, demissões e dificuldades no trabalho, pois "a pessoa pode estar tomando um medicamento que não é necessário e que pode causar dependência facilmente."
Mesmo com o estresse do qual todas as pessoas já estão cansadas de falar, o que se recomenda é claro: o uso de medicamentos só deve ser feito com prescrição médica e em último caso. Médicos e psicólogos defendem que os pacientes, antes de procurarem um remédio, tentem perceber que nem todos os casos são patológicos e que há outras alternativas que não apresentam riscos.